sábado, 12 de dezembro de 2009

Canto de canto nenhum.

canto nenhum do quarto. nenhum quarto que cante. amante do silêncio, de palavra alguma e zumbido nenhum. refúgio interno, canto só meu. respiração lenta. necessária. ouviu daí? mal me quer do barulho vão. coisa qualquer que deixe longe o que vem lá de fora. tampões. de brilho, de vozes, de pratos que batem um no outro, de relógio que demora a passar. vontade de alguma coisa que lembre coisa alguma. vontade atéia.



preguiça de dar explicações sobre os motivos, se é que pode-se dizer que são conhecidos. eles dificilmente vem de cara lavada.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Do não falar.

Do não falar, do não dizer, do não pronunciar.

Não falar o que já se sabe.
Não falar o que se sente, até, muitas vezes. O que não foi dito fica guardado, intocável, puro.

A linguagem é fonte de mal entendidos. Saiu da mente pela boca? Possibilidades mil de julgamentos. Errôneos.

O que quero dizer, nem sempre é o que se entende. O que se interpreta, não foi o que eu quis carimbar nas mentes.
Os textos que escrevo, não querem falar sobre o que se imaginou. O seu ser e a sua história se misturam em tudo que julgou perceber.

Ainda assim, há momentos mágicos, onde o que eu comuniquei foi sentido da maneira mais verdadeira possível... Através de canais que não os da palavra.

Não me diga nada, se eu puder sentir.
Não diga nunca, e eu saberei sempre.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Licença à Rita Lee.

'Se Deus quiser
Um dia acabo voando
Tão banal assim
Como um pardal
Meio de contrabando
Desviar do estilingue
Deixar que me xinguem
E tomar banho de sol
Banho de sol!
Banho de sol!
Banho de sol!...

Se Deus quiser
Um dia eu viro semente
E quando a chuva
Molhar o jardim
Ah! Eu fico contente
E na primavera
Vou brotar na terra
E tomar banho de sol
Banho de sol!
Banho de sol!
Sol!...

Baila comigo, como se baila na tribo (...)
Baila comigo, lá no meu esconderijo.'

Já que foi puro plágio.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Do dormir.

O dormir é bom, mas não pode ser preguiça velha. Não pode lembrar inércia, nem fuga, nem escuro da solidão.
O dormir que vai além do tempo rouba-te seiva e viço. Rouba-te relações pós-noite, rouba-te até um pouco da luz que só vem do sol.
Poupa-te do exagero do dormir. Poupa-te da certeza cega de quem não se move. Do bocejar insistente de quem está morto-vivo. Do descansar eterno de quem esqueceu de mover os músculos e a mente.
Descansa sim, mas somente sobre as sombras do verdadeiro esforço de quem cansou.
Melhor correr coloridamente no vento que tem fé no produzir. Acordar despertando toda alegria de servir. Colocar toda força no propósito de construção de um bem querer, seja ele de que natureza for.
Esforço, para merecer dormir.
Cama bem feita, pra quem viu o suor cair.
Despedida do cansaço, pra quem ousou se confundir.
Maravilha da vida, pra quem lê e me vê dormir.

Da rua, dos bichos, das crianças e do barulho.

Da rua, dos bichos, das crianças e do barulho proveniente deles.
Quando se está longe, é fácil ser engolida por qualquer coisa que lembre o virtual.
Ainda bem que existem seres barulhentos, que nos convidam a acordar desse sono sonâmbulo, e ir ver a vida.
Uma volta pelo quarteirão faz muito pelo cérebro eletrônico de alguém.
Sinto falta da época em que as ruas, e os bichos, e as crianças e os barulhos se cruzavam, da maneira mais harmônica possível. O que sentimos ao dar de cara com esses despertadores de consciência é algo realmente delicioso, e nada nunca será melhor do que as relações que travamos.
De nada importa o lugar, sem as pessoas. O bom e velho 'bom dia' pelas ruas, ir comprar pão, observar as paisagens e o que isso tudo faz com a gente é bem cotidiano, mas bem mágico.
Tive vontade de afagar o bichinho, brincar com o bebê, conversar com a idosa, engolir tudo que eles tem pra me dar. Por que a fome do mundo e dos detalhes é companheira velha.
Viva as sensações, o clima, a respiração, o ver, o escutar, o paladar e o colorido ou o sépia dos passeios pelo quarteirão.

domingo, 29 de novembro de 2009

Bolha de vidro.

A bolha de vidro é quente como o útero. Aconchegante como a infância feliz. Bela como a fé perfeita.


Só não funciona direito: aprisiona. Nem lembra a vida de verdade.
Não se faz do exercício do devorar. Apenas observa, fria e defensivamente.


É vazia.


Toda bolha, seja de vidro, ou de qualquer coisa pronta, segue a natureza do não se encher.

Aí está sua beleza e sua maldição. Proteção.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Leveza.

vem devagar, toma conta sem subitamente.

desce do pensar, invade inocentemente.

ah, de suspirar, invariavelmente.

há, de encontrar, refúgio na mente.

toda leveza, seja bem vinda.

Da impossibilidade.

o possível muitas vezes perturba.
desestrutura.
qualquer coisa trêmula, nas mãos do destino. faz a veia pulsante desfalecer.
há toda uma quietude no real. quietude de mansidão, de domingo frugal.


o impossível muitas vezes me acalma.
isenta.
carro abre alas pra ele, nas mãos da avenida. faz o ritmo adormecido enobrecer.
há todo um movimento no que titubeia. vaievem de multidão, de sábado de carnaval.

faz o ritmo escondido reviver.

sábado, 21 de novembro de 2009

Sobre o despir de alma.

pois bem, que as coisas não cheguem na hora certa, porque estas desavisadas da hora são as que me remetem maior fascínio. e curiosidade. e vontade de bem-viver, do intenso pulsar de quem não avisou quando ia chegar, nem avisará quando imaginar sair. paixão.

o não saber me comove, o surgir da bem aventurada surpresa me obriga a me despir, porque me envolve. me despir da forma mais serena e bela e vívida: não daquela que fala do exibir, mas sim da verdade alheia, da carne fria e sincera, ou quente e bondosa. daquela que fala de saudade, de sonho, do que não é dito a ninguém. da fantasia, essa tão respeitada. que diz algo sobre o desassossego da alma, e também da fluidez de tudo que é formosura.

se despir.... se despir de alma é para poucos.

Muitas coisas.

são muitas coisas. realmente, muitas coisas. a mente não trabalha de forma ordenada, o que ela pede é o caos. porque? pq nem sempre a vida é linear, nem as emoções, nem o que se pensa. o que se pensa, o que se sente, e a vida são um emaranhado. bem grande. um emaranhado daqueles de dar dó no maior nó dos nós. a cabeça gira, não há como controlar tamanha fluidez de energias intensas. o ar quer brincar de correr, e entra e sai rápido dos pulmões. a mão quer brincar de mexer, e treme toda. os pés querem se libertar de algo que não se sabe bem o que é, e querem andar a correr pelos chãos mais diversos, com texturas e cores e luzes várias. sim... e a imaginação... coitada, já é cúmplice-amiga-subserviente da criatividade, e é a que é ainda mais desvairada na loucura de ser quem é. e de servir as vontades.

nesse quadro de extremo pânico-saudável do bem viver, a rotina acende a luz e te chama à realidade. 'há coisas a fazer', ela diz, quase brigando como uma mãe valente e raivosa. vc deixa tudo no seu quarto, e vai obedecer às ordens de quem sabe mandar. mas isso não quer dizer que abandonará o fascínio e o correr doido da emoção de ser muitas coisas. até a próxima sensação.