domingo, 29 de novembro de 2009

Bolha de vidro.

A bolha de vidro é quente como o útero. Aconchegante como a infância feliz. Bela como a fé perfeita.


Só não funciona direito: aprisiona. Nem lembra a vida de verdade.
Não se faz do exercício do devorar. Apenas observa, fria e defensivamente.


É vazia.


Toda bolha, seja de vidro, ou de qualquer coisa pronta, segue a natureza do não se encher.

Aí está sua beleza e sua maldição. Proteção.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Leveza.

vem devagar, toma conta sem subitamente.

desce do pensar, invade inocentemente.

ah, de suspirar, invariavelmente.

há, de encontrar, refúgio na mente.

toda leveza, seja bem vinda.

Da impossibilidade.

o possível muitas vezes perturba.
desestrutura.
qualquer coisa trêmula, nas mãos do destino. faz a veia pulsante desfalecer.
há toda uma quietude no real. quietude de mansidão, de domingo frugal.


o impossível muitas vezes me acalma.
isenta.
carro abre alas pra ele, nas mãos da avenida. faz o ritmo adormecido enobrecer.
há todo um movimento no que titubeia. vaievem de multidão, de sábado de carnaval.

faz o ritmo escondido reviver.

sábado, 21 de novembro de 2009

Sobre o despir de alma.

pois bem, que as coisas não cheguem na hora certa, porque estas desavisadas da hora são as que me remetem maior fascínio. e curiosidade. e vontade de bem-viver, do intenso pulsar de quem não avisou quando ia chegar, nem avisará quando imaginar sair. paixão.

o não saber me comove, o surgir da bem aventurada surpresa me obriga a me despir, porque me envolve. me despir da forma mais serena e bela e vívida: não daquela que fala do exibir, mas sim da verdade alheia, da carne fria e sincera, ou quente e bondosa. daquela que fala de saudade, de sonho, do que não é dito a ninguém. da fantasia, essa tão respeitada. que diz algo sobre o desassossego da alma, e também da fluidez de tudo que é formosura.

se despir.... se despir de alma é para poucos.

Muitas coisas.

são muitas coisas. realmente, muitas coisas. a mente não trabalha de forma ordenada, o que ela pede é o caos. porque? pq nem sempre a vida é linear, nem as emoções, nem o que se pensa. o que se pensa, o que se sente, e a vida são um emaranhado. bem grande. um emaranhado daqueles de dar dó no maior nó dos nós. a cabeça gira, não há como controlar tamanha fluidez de energias intensas. o ar quer brincar de correr, e entra e sai rápido dos pulmões. a mão quer brincar de mexer, e treme toda. os pés querem se libertar de algo que não se sabe bem o que é, e querem andar a correr pelos chãos mais diversos, com texturas e cores e luzes várias. sim... e a imaginação... coitada, já é cúmplice-amiga-subserviente da criatividade, e é a que é ainda mais desvairada na loucura de ser quem é. e de servir as vontades.

nesse quadro de extremo pânico-saudável do bem viver, a rotina acende a luz e te chama à realidade. 'há coisas a fazer', ela diz, quase brigando como uma mãe valente e raivosa. vc deixa tudo no seu quarto, e vai obedecer às ordens de quem sabe mandar. mas isso não quer dizer que abandonará o fascínio e o correr doido da emoção de ser muitas coisas. até a próxima sensação.