sábado, 20 de novembro de 2010

Coisa alguma.

'Dói-te alguma coisa? - Dói-me a vida, doutor. (...) - E o que fazes quando te assaltam essas dores? - O que melhor sei fazer, excelência. - E o que é? - É sonhar.'

Mia Couto

Findas.

'Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.'

Carlos Drummond de Andrade


terça-feira, 16 de novembro de 2010

Devagar.

Vem devagar, bem suavemente.
Envolve.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Apagar-me

'Apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme.'

Paulo Leminski

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Lenda no chá das cinco.

Ela começou a chorar. Não, chorar não, que não chorava muito.
Ria descontroladamente. Não, não...
Saiu por aí colocando a energia da vida pra fora. Foi mostrar a face na noite. Não, não, não...
Relembrou da mágica da vida. Não.


Estava doendo. Tudo pulsava num descompasso. Ela temia. Ela repensava. Ela se fazia sofrer.
Apesar disso, o chá das cinco ainda era servido, todos os dias. Sim, sim, sim.

E ela, ia fazer o que com essa bagagem? Ela não sabia, não sabia.
Ia... Ficar por ali. Relembrando ser gente. Relembrando o espelho. Pensando nas armadilhas da sua mente e do seu coração.
Ia, ia ficar por ali. Relembrando a luz cortante da escuridão. Acreditando na força puxante da vida. Pulsante.

Mas, por enquanto, acreditando, só. Só acreditando.