quarta-feira, 31 de março de 2010

Coração, coragem, pensamento, magia, lar.



Homem com coração de lata. Não, não tem carne nem pulso.
Leão que não é feroz. Não, não há coragem.
Espantalho que não pensa. Não, não há cérebro.
Mágico que não faz mágica. Não, não há magia ou encanto.

Entre desilusões, todos se acham.

E fica a lição... 'Não, não há lugar como o nosso lar...'
Com direito a três batidinhas em lindos sapatos vermelhos.

Se enfiar nas histórias. O valor de.


O valor, belo valor, de se enfiar nas histórias.
De se envolver até quando não se possa mais.
De ser visceral. Até... o até existir.
De ter tua história na minha.

"Não fechei os olhos
Não tapei os ouvidos
Cheirei, toquei, provei
Ah! Eu usei todos os sentidos
Só não lavei as mãos
E é por isso que eu me sinto
Cada vez mais limpo..."

I.L.

Para minha tia.

domingo, 28 de março de 2010

Aos que saíram da gaiola.


Ela sentou no sofá, ouviu o canto do passarinho que estava bebendo água no terraço, água devidamente preparada para ele mesmo, e para qualquer passarinho que voasse por perto, e tivesse sede.

"Pai, essa sim é uma boa forma de criar passarinhos: oferecemos o que eles precisam, e eles ficam livres."

Então ele conta pra ela que caçava passarinhos quando era jovem, junto com o pai dele. Retiravam os passarinhos do lar, que era o mundo, e lhes apresentavam um novo lar, a gaiola.

"Não gosto nem de lembrar que fazia isso", disse ele.

"Mas lembre pai, agora nós oferecemos o que eles precisam, e eles ficam livres."



Sobre as histórias dos outros.


Ouvido que escuta tudo.
Mente que pensa sobre como pensar sobre o que o outro pensou.
Pessoas com necessidade de falar. Com muita necessidade mesmo de falar. Sobre o que lhes dói, sobre o que lhes marcou, sobre a vida, que fere a cada uma delas, em todos os momentos.


O ouvido e a mente daquela que escuta sempre saem feridos.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Na ferida.

Lá estava ela, tocando bem na ferida.

"Guardou tudo bem direitinho lá no fundo do baú, não foi? Tampou com uma tampa bem grande de mármore, né?"

Bendita de palavras tão certeitas e tão cortantes. Ela não queria ouvir aquilo, não agora.

"Mas vai aparecer, em algum momento, você sabe, não é?"

Deus, o que vai ser do mundo depois que inventaram a verdade dita na cara?


Tudo bem, tudo bem... Sou adepta de verdades ditas.

sábado, 20 de março de 2010

Vi em algum lugar.

'Não impõe as suas razões sem antes ouvir e compreender as razões alheias.

É flexível, acolhe a diversidade, promove a alteridade, estimula a liberdade, não é intransigente.

É resiliente.'

Dois.




Dois.
Tiê.
Tudo que queria. Em algum momento no tempo e no espaço.

Junto. Misturado.

Um emboloado. Tudo precisa ser resolvido.

O que se vai fazer?
Deixar mais um dia amanhecer.

Todos, todos...

"...Todos os sentimentos me tocam a alma
Alegria ou tristeza
Se espalhando no campo, no canto, no gesto
No sonho, na vida..."

M.N.

sábado, 6 de março de 2010

Sobre o prazer de engolir o mundo.


Sobre o prazer de engolir o mundo. Era sobre isso que ela estava pensando.

Era apenas essa pequena garantia que ela queria ter. Só uma garantia não ia fazer mal a ninguém, não era pedir demais, mesmo sabendo que estava imersa na vida, onde garantias não existem.

Engolir o mundo. Com tudo que ele tem pra oferecer. Este era um ato que garantia vivência interna, pulsante, sem deixar nenhum vestígio de estados vegetativos. Porque pior do que morrer, é estar vivo-morto.

E ela começou a entender que engolir, este ato citado anteriormente, com a conotação correta de estar vinculado ao mundo belo e feio, não dependia do seu estado de espírito, nem da posição geográfica, nem do estado civil. Ela poderia exercitar-se assim em diferentes épocas, situações e estados... Ainda bem. Muito ainda bem. Mesmo. Já que era uma questão de sobrevivência.



Maçã-globo.

terça-feira, 2 de março de 2010

Não. Nada.

'Não, não diga nada... Talvez assim seja mais fácil de entender.'

As duas. Assim, ao mesmo tempo.

A música foi a única coisa que os tocou, diante de tamanha tragédia.

'Eles choram de alegria ou de tristeza?'

'Não importa... Alegria e tristeza podem co-existir...'

Ensaio...



'Mas você não me conhece...'

'Conheço a sua parte que não tem nome. E isso é o que somos de verdade, não?'


Ensaio sobre a cegueira.