sexta-feira, 19 de agosto de 2011

4º motivo da Rosa

'Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.


Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.


Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.


E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.'


Cecília Meireles
In Mar Absoluto

Flor e nuvem. Estrela e mar.


'Sou entre flor e nuvem,
estrela e mar.

Por que havemos de ser unicamente humanos,
limitados em chorar?

Não encontro caminhos
fáceis de andar

Meu rosto vário desorienta as firmes pedras
que não sabem de água e de ar
E por isso levito.

É bom deixar
um pouco de ternura e encanto indiferente
de herança, em cada lugar.

Rastro de flor e estrela,
nuvem e mar.

Meu destino é mais longe e meu passo mais rápido:
a sombra é que vai devagar.'

Cecília Meireles


segunda-feira, 25 de julho de 2011

Há um passo.

Ah... um passo...

Há um passo.

Há um passo de ser tudo que já foi.
Há um passo de ser quem novo é.

Ah... o passo.

Burburinho.

O barulho interno desorganiza o que poderia ser bem vivido no silêncio.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Vilarejo do Peixe Vermelho.

Presença e ausência é uma questão de sentir. Quando não acreditamos mais, a pessoa deixa de existir.

E ele, que estava logo ali, desapareceu.


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Lindo de ver as ações, e depois essas ações se repetirem, agora narradas pelas vozes dos nossos pensamentos. E aí, até gente que não se conhece se encontra, pela sintonia de perceber o mesmo.

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Como reconhecer alguém que você nunca viu?

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Os atores nos olham, mudando a perspectiva, como se o palco estivesse na platéia.




Devaneios depois do espetáculo “Vilarejo do Peixe Vermelho”, do grupo mineiro 'Cia Clara de Teatro'.

É como se perder de Deus, e eu não quero.

É como se perder. Pelo meio do caminho, pelo caminho todo, pelo todo do caminho, pelo caminho do meio.


É como não ser quem se é.


É como se desconhecer.


É como olheira marcada. Rosto meu, rosto teu.


É como não ver todos eles.


É como acordar de sobressalto, como perder as forças das pernas, como respirar profundo, com o ar teimosamente a não participar.


É como embaralhar ideias de baralho. Como ser duas mentes em uma só. Como ter labirintos frente aos olhos. Como se ter mãos severas ditando o correto.





É como se perder de Deus, e eu não quero.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Traga meu coração de volta.

Traga meu coração de volta. Não moço, não pedi um café. Pedi o coração. Co-ra-ção. Deu pra entender agora? Ouviu?

Ele sai, com a bandeja vazia, mas a mente nem tanto. Aquele paninho balançando no braço, amarrotado. Vai lá dentro, conversa nervosamente qualquer coisa, olhos mexendo inquietos. Lábios brancos. Unhas pequenas, de levar à boca.

Volta. Meia-volta.Vem.

Traz qualquer coisa ali na bandeja, e explica que não servem corações, muito menos os que já foram dados. Não se pede coração de volta. Quem pediria coração de volta? 'A não ser que você seja louca.'

Tudo bem. A não ser que ela seja louca.